#Som: Dicas de Sonorização

Mixagem é uma das partes mais importantes da sonorização tanto em estúdio quanto em ambientes ao vivo. Para isto, temos que levar em conta vários parâmetros como volumes, efeitos, profundidade, distribuição nos panorâmicos e equalização. Equalizar é somente um dos parâmetros de uma mixagem e é neste aspecto que vou me fixar neste artigo.

Equalizar é trabalhar as frequências, é modificar graves, médios e agudos. É o que vai dar a “cor” para uma sonoridade.Em grande parte das vezes é na equalização que tiramos o “enlatado” de um timbre ou damos mais “brilho” a um som. Acrescentamos “peso” ou damos “presença” no som de determinados instrumentos.

Muita gente, ao equalizar, não entende como as ondas sonoras atuam em um timbre e em alguns casos não compreendem como funcionam os diferentes tipos de equalizadores. Acabam não tirando o melhor proveito das frequências e dos equalizadores. Assim, para equalizar faz-se necessário conhecer as frequências e os tipos de equalizadores para desenvolvermos nosso assunto.

O som é energia acústica produzida por vibrações, que se propagam como onda e precisam de um meio para se mover. Uma onda sonora se repete ciclicamente num espaço de tempo e estes ciclos de onda são medidos em um segundo, o que chamamos de Hertz (ciclos/s=Hz).

As frequências audíveis ao ouvido humano são as compreendidas entre 20Hz e 20.000Hz (ou 20KHz). Quanto menos se repete num segundo, mais baixas são as frequências e quanto mais se repetem, mais altas. Daí o conceito de frequências baixas (graves , LOW), médias (MID) e altas (agudas , HIGH).

O som que normalmente escutamos, seja de uma voz ou de um instrumento, vem sempre acompanhado de um conjunto de frequências. Como diferenciamos um lá3 de um piano de um lá3 de uma flauta? Ambos estão emitindo o mesmo lá3 que é 440Hz! Toda frequência fundamental (como o exemplo do lá3=440Hz) vem acompanhada de seus múltiplos (chamados de harmônicos) e os instrumentos, pelas suas características, têm diferentes capacidades de emitir seus harmônicos.

Estes harmônicos são sempre mais agudos que a fundamental (por serem múltiplos). O somatório destes harmônicos com sua fundamental formam o que chamamos de TIMBRE. No exemplo da flauta e do piano, mesmo os dois emitindo a mesma nota musical (na mesma frequência), sabemos da diferença do som dos dois porque as características físicas de cada instrumento nos faz ouvir os harmônicos em volumes diferenciados.

Como vimos, os harmônicos de um timbre são mais agudos do que a frequência fundamental. Assim podemos deduzir que quanto mais agudo acrescentamos em um timbre, através de um equalizador, mais caracterizado fica este timbre, por excitarmos os harmônicos deste. Cabe lembrar que isto vale para timbres que efetivamente foram captados com agudos na sua timbragem. Algumas vezes passamos muito trabalho em uma mixagem tentando “desembolar” uma voz solo de um grupo vocal, por exemplo.

Quando temos uma mulher solando acompanhada de vocais femininos, podemos nos deparar com este tipo de problema. Podemos ter esta situação também quando temos duas guitarras numa banda e estes timbres se misturam, sem caracterizar um ou outro. Várias outras situações podem acontecer requisitando mais nitidez de um som. Nestes casos, vale a pena aumentar um pouco o agudo de um dos timbres para diferenciá-lo em relação ao(s) outro(s). No entanto, temos que cuidar o contrário, pois o excesso de agudos pode tornar o som irritante e artificial. Resumidamente podemos afirmar que as FREQUÊNCIAS AGUDAS (entre 6,3KHz e 20KHz) dão DEFINIÇÃO ou NITIDEZ a uma timbre.

A maior parte das fontes sonoras musicais estão repletas de frequências médias. Grande parte do que ouvimos está na faixa entre 200Hz e 6,3KHz. Esta gama de frequências podemos subdividir assim: os médios graves (200Hz a 630Hz), os médios (630Hz a 2KHz) e os médios agudos(2KHz a 6,3KHz). Esta faixa de frequência é a que dá PRESENÇA à sonoridade dos timbres.

É importante ter claro este conhecimento porque às vezes, numa mixagem, notamos que o som de um determinado instrumento ou voz “desaparece” no meio dos demais. Damos volume a este instrumento e parece que mesmo assim ele não sobressai. Muitas vezes é porque o som está “magro” e esta “magreza”pode ser resolvida acrescentando frequências médias no equalizador (normalmente entre 630Hz e 2KHz, dependendo do timbre).

Por outro lado muito cuidado com o excesso destas frequências que pode fazer com que o som fique “enlatado” ou estridente (especialmente acima dos 2KHz). Com isto podemos concluir que as FREQUÊNCIAS MÉDIAS (entre 200Hz e 6,3KHz) dão PRESENÇA ou CORPO a um timbre.

Agora vamos comentar sobre o que a esmagadora maioria dos ouvintes e “mixadores” gostam de ouvir. Som pesado , gordo, “pegado”, “no peito” , vários são os nomes para a presença dos graves (20Hz a 200Hz). Poucos são os instrumentos que estão nesta faixa: o contrabaixo, o bumbo, algumas notas de oitavas mais baixas de um teclado além de outros com sonoridade peculiar. Subdividindo, temos os subgraves que vão de 20Hz a 63Hz e os graves que vão de 63Hz a 200Hz.

Acontece às vezes do som ficar “abafado” (como se tivesse um cobertor tapando a caixa de som).O “abafado” tanto pode ser pela falta de agudos como pelo excesso de graves. Cada caso tem que ser analisado criteriosamente e na falta de experiência, vale as seguintes tentativas para solucionar a timbragem “abafada”: aumentar as frequências agudas, diminuir as graves ou ainda um pouco de cada.

A questão interessante é que sobre os graves, podemos afirmar que eles se sobressaem por si só. Tendo caixas de som que favoreçam a reprodução desta faixa de frequência e tendo sido bem captado os graves, fica fácil mixar um bumbo ou um contra-baixo (por exemplo). Sobre a faixa dos graves (entre 20Hz e 200Hz), afirmamos que esta dá PESO ou PROFUNDIDADE a um timbre.

Sobre o bumbo da bateria, vale a pena comentar que um pouco de 50Hz a 70Hz vai deixá-lo com um som mais gordo e profundo, mas sem esquecer que os agudos (acima dos 7KHz) farão com que o “kick” do bumbo (ataque) apareça mais. Quanto mais ataque (kick), mais agressivo fica o som do bumbo. O juiz final neste caso será o estilo musical e o “gosto do freguês”.

O grande cuidado que temos que ter com as frequências numa música está no arranjo musical. Citando como exemplo no caso dos graves, muitos instrumentos tocando notas graves ao mesmo nos dará pouca possibilidade de solução na equalização. Já vi muitos casos de uma cama harmônica de teclado tocar timbres graves, junto com o piano tocando a base com a mão esquerda “fazendo o baixo” junto com o contra-baixo. Isto dificilmente soará bem. Somente como piada gosto de afirmar que o melhor botão equalizador para excesso de notas numa mesma região é o botão de MUTE da mesa de som ou o DELETE do computador.

Cabe ressaltar que o capricho na captação facilita na fidelidade da resposta dos equalizadores. Se captamos o som sem os agudos, os equalizadores não respondem pelo simples fato de não existir agudo na captação do timbre. Não existe equalizador que acrescente qualquer frequência em um timbre que não tenha sido captada. Isto vale para graves , médios e agudos. Equalizador não cria frequências, ele só dá volume para o que existe no som captado. Não adianta por exemplo, acrescentar agudo na faixa dos 16Khz para uma voz que foi captada por um microfone que responda até 13KHz. Ou querer dar peso com 50Hz num tom de bateria se ele “soa” a partir de 170Hz.

Às vezes acontece de buscarmos no equalizador uma timbragem que não é da natureza do timbre captado. Um exemplo é uma voz estridente. Podemos diminuir agudos acima dos 10KHz, e suavizar os médios na faixa de 1,5KHz. Isso com certeza ajudará, mas se a pessoa mixada canta naturalmente estridente, soará sempre estridente. O que podemos fazer na equalização é suavizar a pessoa estridente. Se queremos uma voz realmente mais suave e que soe natural, temos que ter uma pessoa que o seja ao cantar. Outro exemplo: o equalizador não transforma uma caixa pícolo de bateria numa caixa gorda com som grave. Se queremos uma caixa de bateria com som grave, temos que captar uma caixa que seja assim.

Um bom exercício para aprender equalizar é ouvir muito. Ouvir músicas de qualidade que você e seu cliente considerem referência. Faça isso nas caixas de som que você está acostumado a fazer as suas mixagens: nos monitores do seu estúdio, nas caixas da sua igreja ou onde quer que seja. Ouça e tente separar na sua mente cada instrumento da mixagem e escute como ele foi encaixado na mixagem. Isto ajudará você exercitar sua mente a procurar bons timbres na sua própria mix.

Sobre Abner Borba
Abner Borba trabalhou em produções ao lado de nomes como Asaph Borba, Filhos do Homem, David Quinlan, Casa de Davi, Kleber Lucas, Fernandinho, Williams Costa Jr, além de produções para a igreja na Alemanha, Portugal e vários países da América Latina e Oriente Médio. Fez curso técnico nos Estados Unidos e atualmente é diretor do estúdio da Life (Ministério de Asaph Borba, seu irmão) e se dedica a dar cursos e treinamentos em áudio para Igrejas e Técnicos em geral.

Fonte: Supergospel

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